quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Solução

Inércia
Um pedaço de concreto
Uma faca amolada

Tristeza
Um sorriso de criança
Um beijo, um abraço

Rancor
O tilintar do arco-íris
O sol, o porvir

Desespero
A flor, o beija-flor
O urso e o bicho-preguiça

Pressa
A lagarta, a borboleta
O tempo e o vento

Angústia
Beijos, amigos
Mente X coração

Solidão
Esperança, tranco...
O portão da ventania

Choro
Mar, atrito
Um vão no infinito

(Rodrigo Vaz)

Nos mínimos detalhes

Pensamentos desvairados
Imagens em um quarto escuro
Uma borboleta que voa
Uma criança que passa
E sorri

Multidões silenciosas
Madrepérolas e jasmins
Um carro "risca" o asfalto
Jovens bebem vinho
E cantam

Fim de noite
Até as corujas dormem
Restos mortais de um dia sem fim
Um mendigo estende a mão
E pede esmola


(Rodrigo Vaz)

Vida real

Sei que envelheço todo dia
TODO DIA TODO DIA
Pássaros, bétulas, sons
Uma criança...
Uma mulher...
Uma senhora!

Uma senhora que chega e diz:
Entra, experiencia
A porta está aberta
E Branca de Neve já acordou
O tempo passa correndo
É preciso avisar a Cinderela
Que o seu tempo acabou

Fantasias..
Meus fantasmas
Fantasmagorias
Alegorias... meu carnaval...
Um pedaço de romã

Vem, antes que a bomba estoure
Antes que o rio transborde
Antes que o sol se ponha

Onde moro?
As pessoas vem e ficam
Meus fantasmas
A porta continua aberta
E é preciso avisar a Cinderela

(Rodrigo Vaz)

Conversas e piruetas

Bom dia, estranho!
Como vai sua vida íngreme?
Algum vendaval veio açoitar essa semana?
Nenhum vulcão entrou em erupção em teu cérebro?

Boa tarde, ilógica!
Alguma verdade foi dita hoje?
Algum soluço encantador veio ao teu encontro?

Boa noite, loucura!
Alguma estrela veio cantar-te melodias de Beethoven?
Algum surdo evocou a lua e esperou borboletas em silêncio?
Nenhum grito de horror veio regozijar sua alma silente?

Bom dia, estranho!
Como vai sua vida íngreme?

"Cada um de nós é uma lua e tem um lado escuro que nunca mostra a ninguém."
Mark Twain

(Rodrigo Vaz)

domingo, 30 de novembro de 2008

Erotica

Eres hermosa
Con senos cansados
Y la voz sexy

Disfrute en sus muslos gruesos
Si bien suave caricia sus nalgas
Acaracio su clítoris
Mientras que gozas en mí

Usted está provocando
Surround

Su cuello es un puerto de placer
Sus labios son el sabor del pecado
Me gusta las manzanas de tu cara

Perdóname, Dios
Cuando pienso en Espanhola


(Rodrigo Vaz)

Filo-sofia

Quem sou eu?
Para onde vou?
De onde venho?
O que faço aqui?
Clama por resposta a consciência do pré-socrático

Esta natureza é sem idade e sem velhice - brada Hipólito
Tudo surgiu da água, do infinito ou do ar? - Tales, Anaximandro ou Anaxímeres?
Água, terra, fogo e ar - me revela Empédocles

O que é eterno neste mundo?
Os números são as verdades eternas, Pitágoras!
Tudo nasce, se transforma e se dissolve, me dizia Heráclito
Nada muda, a mudança é uma ilusão - conserta Parmênides
Tudo sempre existiu e sempre existirá - interpela Melisso

A razão que tenho é como penso as coisas
Não! Não! Isso é o próprio ser das coisas!

O mundo não é mais que uma representação
Tomando consciência de mim mesmo, experiencio minhas vontades e paixões
O mundo concreto é fruto do mundo das Idéias, isto é Platônico?
Não existe um outro mundo além deste que vivemos - esbraveja meu superego aristotélico
O ser-aí, o ser-no-mundo, ser-a-cada-momento ou de-cada-vez de Heidegger
Estou condenado a ser livre, Em Si e Para Si, conforme Sartre

O que me resta é tomar a taça de cicuta
Boa Noite!!!

Ah, e antes que me esqueça
Duvide de tudo isso...



(Rodrigo Vaz)

sábado, 22 de novembro de 2008

Sangue de Barata (Secos & Molhados)

Sentado no sofá
Comendo cornflake
Assistindo tv
Por puro deleite
Vem a noticia
De que policia
Prendera um ladrão
-desses com fome
Que dorme no chão
Ou em pé na prisão
Há quem diga até
Que é por falta de fé
Que rouba e que mata
Nascido da lata do lixo
Considerado um bicho


Assim com ele
Comendo cornflake
Sentado assistindo
Vivendo e morrendo
Por puro deleite
Vem a certeza
Que a nobreza
Perdera a cabeça
-dessas barrocas
Que de tão ôcas
Se salvam poucas
Há quem diga até
Que é por meio da fé
Que rouba e contrata
Nascido aristocrata
Com sangue de barata

Rondó do Capitão (Secos & Molhados)

bão balalão
senhor capitão
tirai este peso
do meu coração
não é de tristeza
não é de aflição
é so esperança
senhor capitão
a leve esperança
a aerea esperança...
aerea pois não!
--peso mais pesado
não existe não
ah! livrai-me dele
senhor capitão

Metereologia

A lua prenuncia que a noite vai ser boa
Branca com tons amarelados
Indica que os apaixonados irão se beijar
E as dores de cotovelo acabarão num bar

As estrelas circula no céu
A cadente passa e esbanja seu véu
Avisando que algo vai acontecer
De repente... Puft!!!

O mar se descortina maestralmente sobre a areia
Uma onda de sonhos vai chegar
Conflitos também irão de surgir


Assustado, olho as nuvens
Elas confirmam tudo
Desenhando em tons cinza-claros
Os apaixonados, eu e você...
A dor de cotovelo e os conflitos...

Caio na areia:
Amanhã será um novo dia!

(Rodrigo Vaz)

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Foraclusão

Hoje eu não sinto nada
O dia está verde-claro
As nuvens estão brancas
Como sempre
É tudo tão igual

A menina que passa
A dona do boteco que grita
O bêbado que me pára querendo conversar

Hoje eu não sinto nada
Nem tuas mãos, nem teus olhos
As borboletas voam
O galo canta
O cachorro late
É tudo tão igual

Hoje eu não sinto nada
A vida em tons pastéis
As folhas amareladas
O vômito, e a barriga vazia


Hoje, só por hoje
Eu te prometo não sentir nada

(Rodrigo Vaz)

domingo, 2 de novembro de 2008

Êeee Maíraaa, Êeee Maíra

Era bonita e tinha olhos de jabuticaba

Olhava para mim com um olhar ingênuo
Pedia abrigo, pedia carinho
Era um gatinho abandonado

Era bonita e tinha olhos de jabuticaba

Olhava para mim furiosa
Seu sangue fervia, seu olhar fustigava
Era uma abelha assanhada

Era bonita e tinha olhos de jabuticaba

Nem olhava para mim, só eu a olhava
Tinha pernas bonitas e uma voz sensual
Era a menina que amava

Era bonita e tinha olhos de jabuticaba

(Rodrigo Vaz)

Anunciação

É no batuque dos tambores
É no canto da cotovia
Que algo se anuncia

Liberta-me da brancura
Preenche os espaços vazios
Cubra com carinho este corpo nu com frio

Olha aquela árvore
Olha aquele sol
Vê essa lua

Brancos, índios, negros
Miscigenados, mamelucados
Homens e mulheres, seres humanos


Ansiosos, os humanos se ajuntam
Estão atentos, expectativos
Um mousse de carne e osso

Agora tá tão calor!
Me esquenta um pouco
Um carinho é tão bão!


Tudo está pronto!
Os seres humanos se ajuntam
Atentos, expectativos
Ansiosos, são carne e osso

Apocalipse

Fotografias do dia-a-dia
Caras & Caretas
Perco-me pensando em "nada
Enquanto os outros assistem teu espetáculo

Cambalhotas na rua
Me dá o último beijo...
E o último abraço...
São tantos mártires
Que eu nem sei quem sou
O último gole de café
A última dose de conhaque
O último sorriso genial

(Rodrigo Vaz)

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

O avião da Bela Adormecida

Era ela, elástica, com uma pele suave da cor do pão e olhos de amêndoas verdes, e tinha o cabelo liso e negro e longo até as costas, e uma aura de antiguidade que tanto podia ser da Indonésia como dos Andes. Estava vestida com um gosto subtil: jaqueta de lince, blusa de seda natural com flores muito ténues, calças de linho cru, e uns sapatos rasos da cor das buganvílias. "Esta é a mulher mais bela que vi na vida", pensei, quando a vi passar com seus sigilosos passos de leoa, enquanto eu fazia fila para abordar o avião para Nova York no aeroporto Charles de Gaulle de Paris. Foi uma aparição sobrenatural que existiu um só instante e desapareceu na multidão do saguão.
Eram nove da manhã. Estava nevando desde a noite anterior, e o trânsito era mais denso que de costume nas ruas da cidade, e mais lento ainda na estrada, e havia caminhões de carga alinhados nas margens, e automóveis fumegantes na neve. No saguão do aeroporto, porém, a vida continuava em primavera.
Eu estava na fila atrás de uma anciã holandesa que demorou quase uma hora discutindo o peso de suas onze malas. Começava a me aborrecer quando vi a aparição instantânea que me deixou sem respiração, e por isso não soube como terminou a polémica, até que a funcionária me baixou das nuvens chamando minha atenção pela distracção. À guisa de desculpa, perguntei se ela acreditava nos amores à primeira vista. "Claro que sim", respondeu. "Os impossíveis são os outros" Continuou com os olhos fixos na tela do computador, e me perguntou que assento eu preferia: fumante ou não-fumante.
- Dá na mesma - disse categórico - desde que não seja ao lado das onze malas.
Ela agradeceu com um sorriso comercial sem afastar a vista da tela fosforescente.
- Escolha um número - me disse. - Três, quatro ou sete.
- Quatro.
Seu sorriso teve um fulgor triunfal.
- Nos quinze anos em que estou aqui - disse -, é o primeiro que não escolhe o sete.
Marcou no cartão de embarque o número do assento e me entregou com o resto de meus papéis, olhando-me pela primeira vez com uns olhos cor de uva que me serviram de consolo enquanto via a bela de novo. Só então me avisou que o aeroporto acabava de ser fechado e todos os vôos estavam adiados.
- Até quando?
- Só Deus sabe - disse com seu sorriso. O rádio avisou esta manhã que será a maior nevada do ano. Enganou-se: foi a maior do século. Mas na sala de espera da primeira classe a primavera era tão real que havia rosas vivas nos vasos e até a música enlatada parecia tão sublime e sedante como queriam seus criadores.


Gabriel García Márquez

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Diário de motochicreta ou Cada um no seu quadrado

Data: 22/09/2008

Bom..... Ado ado ado Cada um no seu quadrado...
Caralho velho já pensasse na poética que existe por detrás desta expressão!
Cronicamente inviável X Socialmente considerável.
Nesse fim de semana tanta coisa aconteceu, porra....
Eu, Baiano e Dennisson* resolvemos incorporar Che Guevara e viajar por ae.
O trajeto era Guarabira, Areia, Patos, Teixeira, Sousa, Cajazeiras, Brejo Santo, Crato, Juazeiro, Exú.
Só participei da primeira parada: Guarabira, que para chegar lá partimos de João Pessoa passando por Bayeux, Santa Rita, Sapé, Mari.... Lá conhecemos Pirpirituba, Bananeiras (onde tinha uma pedra massa) e Solânea (Medicina... que legal...)
Ao observar a cidade, pensei que viagem...
Um arrastão como chamam da candidata a prefeita da cidade seguia pelas ruas. A galera se organizava em manadas juntos de mão dadas ou separadas, sorriam descontroladamente, mas corriam como se fugissem de um incêndio na selva....Idolatram, sentem o peso da condição de submissos diante do poder, daquela microfísica de poder, mas são leves ao se arrastarem pelo ar, dissolvem-se ao escutarem a música mágica que invadia o tímpano: ado ado ado Cada um no seu quadrado. Eram corpos dentro de um círculo de controle, é preciso ter a ficha pra ingressar naquele processo, constituir aquela estrutura, potencializar a força do poder, um controle contíguo dos corpos em comunicação instantânea.
É tudo tão cronicamente inviável, mas tão socialmente considerável. É preciso ter a senha; ado ado ado Cada um no seu quadrado


* Uns maloqueiros meio punk hippie que encontrei por ae... Doido é doido rsrsrsrs...

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

As mesmas flores, o mesmo jardim...

Na praça, pela manhã, crianças correm no parque, enquanto pombos degustam pipocas ao chão e um mendigo deleita-se sobre o banco.

Na praça, à tarde, um casal enamorado observa o entardecer até o último raio de sol se esvair, enquanto um mendigo deleita-se sobre o banco.

Na praça, à noite, um mendigo deleita-se sobre o banco, enquanto um poeta olha as estrelas e escreve.

(Rodrigo Vaz)

terça-feira, 9 de setembro de 2008

Tritões e Sereias

Olho para ti, encantado, enquanto falas:
“Vem menino, não tenhas medo!”
Seguro em tua mão e me afogo em teu mar
Deusa Iara, Iemanjá renascida

És tão forte, reluzente
Escaldante
Tuas mãos quentes contrastam com meus gélidos lábios
Teu nariz afilado é meu queixo fino
Tua boca carnuda de Marylin Monroe desconecta meus circuitos neurais:
“Voa vestido, voa!”

És tão cálida, tão Lua
Tão Leite
Teus olhos misteriosos sãos os meus olhos
Tua íris palpita com a minha
E meu coração enxerga com o teu

(Rodrigo Vaz)

Os Sonhadores, Os Educadores ou os Meninos Espertos

Já passa da meia-noite
E três jovens resolvem vomitar algumas palavras
Ou talvez até dissecar alguns sapos difíceis de engolir


Um deseja o frio, mas tem calor
A menina é o peso, a vitalidade, mas também é semi-real
O outro não se sabe, o que ele deseja, ele escreve

Íntimos, surdos-mudos, cegos, ás vezes
Ciumentos, saidinhos, melindrosos
Melancólicos, esboçam um Schopenhauer, meio Álvares de Azevedo

Todos querem algo
Nas entrelinhas, mensagens subliminares
Está vendo mesmo o que foi escrito
Puta que o pariu e um beijo de boa noite foi dado

(Rodrigo Vaz)

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Nada a declarar

O nada e a observação psicológica estão enclausurados. Mas para que então existe psicologia? Aliviar a carga de viver seria a resposta. Porém, o viver restinge-se ao nada. O niilismo humano aflorado cotidianamente desenvolve uma observação superior de um eu separado reduzido ao nada, a um buraco negro sem saída. Ou existe saída? A observação incrementa esse buraco negro com mais indagações, indagações estas que exprimem saídas prodigiosas que mais uma vez produzem o nada.


(Rodrigo Vaz)

domingo, 31 de agosto de 2008

Dissecando sapos

A humanidade é prodigiosa e no seu ímpeto lascivo se impulsiona e transforma-se ou quem sabe putrefa-se em dissecações morais. Mas o que seria a moralidade? Seriam os bons costumes, as boas normas e condutas. O que seria a moralidade? Normas adquiridas no seio familiar, na escola, na vida comunitária ou no próprio desenvolvimento do eu. Mas que "eu" é esse? Onde poderia encontrar tais respostas? O eu seria (quer dizer é) o desenvolvimento subjetivo de tais normas e condutas, seria uma forma amadurecuda de tais. Mas como então explicar as dissecações morais em torno de normas amadurecidas? A moralidade submersa nos conceitos adquiridos, na subjetividade pessoal ou coletiva (digamos na sociedade) promovem dissecações prodigiosas e por mais que essas normas estejam maduras, elas sempre estarão sendo abastecidas de experiências passadas vividas, de subjetividade, de humanidade (que ao lançar-se impetuosamente promovem tal moralismo dissecante).

(Rodrigo Vaz)

sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Como se fosse mais um dia...

E lá estava eu, de calças largas, de olhar perdido, de pés no chão... E do outro lado da rua estava um cara, de calças largas, com um olhar meio perdido também, mas os pés nem tocavam o chão. Resolvi me aproximar, afinal é muito difícil alguém de calças largas no nosso mundo, mas o que mais me chamou a atenção foram os seus pés mesmo. Chegando bem perto, percebi que havia uma sacola em sua mão, aparentando está cheia de alguma coisa. Quando ia colocar a mão em seu ombro, não sei o que houve, mas ele saiu apressado, na verdade, ele correu. Saí apressado, tentando acompanhá-lo, mas não consegui, ele simplesmente desapareceu. Fiquei a noite pensando no que ele trazia naquela sacola, se seriam frutas, se fossem goiabas, ele ia me oferecer uma, eu iria dizer que "Valeu, quero não!", e ele iria insistir "Pega cara!"e eu então iria aceitar, mas e se fosse um traficante, com certeza ele iria dizer "Sai daí otário, tô com um bagulho aqui pesadão, firmeza?", havia também a possibilidade de ser um jovem pai que encontrou algum dinheiro por aí (talvez os cinco reais que perdi semana passada) e comprou alguns pães para alimentar seus nove filhos, sendo que cinco deles estão muito doentes.

No outro dia, li o jornal, na página 5 tinha a seguinte notícia:
"RAPAZ É ATROPELADO NO BAIRRO JARDIM CIDADE UNIVERSITÁRIA, EM SUAS MÃOS HAVIA UMA SACOLA, DENTRO DELA: UM PAR DE CHINELOS, UM ÓCULOS E UM CINTO.

Aquilo que sai das entranhas...

A casa está vazia
Há tanto barulho
Mas lá no fundo, eu escuto o silêncio
Aquele silêncio oculto, tirânico, dominador
E porque não dizer castrador

A casa está vazia
Há tanto barulho
Uma mulher grita lá fora
Seu filho morreu em seus braços
E nada mais

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Garotos não resistem aos seus mistérios

Eram duas meninas
Eram duas crianças
Sempre juntas, entrelaçadas
Tocam-se, abraçam-se
Respiram e metabolisam o amor que sentem



Eram mulheres
Que deitadas na grama
Jogavam o lixo fora
Aquele lixo tirano
Lixo do dia-a-dia

As joaninhas e as formigas param seus afazeres
E contemplam as palavras e as coisas que saltavam das bocas solenes
Os pássaros não cantavam mais
Apenas o vento não cessava
E isso as irritava muito
Talvez ele quisesse saber como elas se chamavam

(Rodrigo Vaz)

Para a Semana de Psicologia

Ouxe, que não é que eu me aperrie, eu resolvi escrever algumas palavrinhas para quem participou e alimentou essa Semana.
Gritos, algumas lágrimas, correria.
Pequenas bolhinhas fervilhando em nosso cérebro descomunal fazendo inúmeras e rápidas conexões neurais que dizem:
“Faça sua mente dançar, meu amigo!”
Nosso inconsciente esquizoanaliticamente anseia por um processo, por uma resposta, por um julgamento. A libido já não cabe mais em si e é preciso que eu, em estado de total gozo, rompa com a barreira do recalque e descarregue:
“Faça sua mente dançar, meu amigo!”
Vários esquemas me consomem por inteiro, aquilo que chamam de inteligência nem sei onde se encontra mais. Uma nova informação chega e é preciso assimilá-la:
“Não pense que a cabeça agüenta se você parar!”
“Faça sua mente dançar, meu amigo!”

domingo, 13 de julho de 2008

Esse tango que me seduz

Jogando em cima do criado mudo
Está um pedaço de papel
E um lápis
Olham para mim
Fitam-me com frieza
Como a um convite para um tango

Eu já seduzido, aceito
Pego o lápis e estendo sobre a palma da minha mão
Como é áspero e resistente!
O pedaço de papel voa ao meu encontro
Como é macio e flexível!

Jogado em cima do criado mudo
Eu tenho um pedaço de papel
E um lápis
Olham para mim
Fitam-me com frieza
Como a um convite para um tango

As palavras saem enlouquecidas
Brotam, não sei de onde!
Os pássaros vêm escutar os versos
Como são àsperos e flexíveis!

Jogado em cima do criado mudo
Eu largo o pedaço de papel
E o lápis
Tento dormir
Mas o tango, o tango...
Ele não termina

(Rodrigo Vaz)

sábado, 21 de junho de 2008

Hipocrisia (Revolta interna)

Que de tanto comer
Eu vomito

Que de tanto santificar
Eu profano

Que de tanto eu idolatrar
Eu me perco

Que de tanto falar palavras bonitas e vistosas
Eu já não sei o que digo

Que de tanto ver demais
Eu já não vejo

Que de tanto sonhar
Eu acordo


(Rodrigo Vaz)
A coisa mais injusta sobre a vida é a maneira como ela termina. Eu acho que o verdadeiro ciclo da vida está todo de trás pra frente. Nós deveríamos morrer primeiro, nos livrar logo disso. Daí viver num asilo, até ser chutado pra fora de lá por estar muito novo. Ganhar um relógio de ouro e ir trabalhar. Então você trabalha 40 anos até ficar novo o bastante pra poder aproveitar sua aposentadoria. Aí você curte tudo, bebe bastante álcool, faz festas e se prepara para a faculdade.Você vai para colégio, tem várias namoradas, vira criança, não tem nenhuma responsabilidade, se torna um bebezinho de colo, volta pro útero da mãe, passa seus últimos nove meses de vida flutuando. E termina tudo com um ótimo orgasmo! Não seria perfeito?

Charles Chaplin

quarta-feira, 4 de junho de 2008

Convocatória de amor

No meio da noite eu busco o cheiro da tua pele
E num banco de praça eu me afogo em saudades
E o tempo me diz:
"Que fazes aqui ainda, belo boboca! Siga o vento!!!"
E eu respondo:
Como se estou preso
A este impetuoso estribilho que me amarra no banco
Se pelo menos alguma vespa zunisse aqui, mas nem isso

No meio da madrugada,
O galo canta seu ultimo pressagio
Como se anunciasse minhas memorias postumas
E como num encanto de magia, o vento soprou
A vespa zuniu, o estribilho se arrebentou
Eu segui o vento,
Mas a saudade ficou

(Rodrigo Vaz)

sexta-feira, 30 de maio de 2008

Maio de 68

Hoje é maio de 2008

Pessoas gritam nas calçadas
Carros correm no asfalto
Cartazes anunciam...

"Ontem foi maio de 68"

Pessoas corriam no asfalto
Carros gritavam nas calçadas
Cartazes "paralelepipetavam"

(Rodrigo Vaz)

segunda-feira, 26 de maio de 2008

Na varanda da minha casa

A cidade dorme
Enquanto eu grito
"Psiu! Silêncio!" - berra a coruja

Meu grito é confuso e despedaçado
Entre mim e "mim mesmo"
Existe um "mutualismo canibal"


A rua dorme
Enquanto eu sonho
"Psiu! Silêncio!" - grita a cigarra

Meu sonho é inconstante e despedaçado
Entre mim e "mim mesmo"
Existe uma ponte interminável

O asfalto dorme
Enquanto eu escrevo
" Psiu! Silêncio!" - esbraveja a mariposa

Na varanda da minha casa
Minha mente confusa escreve
Enquanto eu grito
E a cigarra berra

Rodrigo Vaz

sábado, 24 de maio de 2008

Monólogo

No maior ímpeto do meu viver, encontrei um buraco negro. Quebrar as regras, não entregar os pontos, apreciar o buraco negro e todo esse caloso espetáculo vivenciado como aranhas em teias à espreita da presa: a "inocente" mosca amedrontada. Onde estaria a "sua mosca amedrontada?" Talvez escondida, o ser humano responderia. Mas pode estar mais clara e apresentável do que a mais bela das camélias da noite. Moscas mariposas são livres na noite, espreitam o buraco negro e por lá ficam, muitas não desvendam seus mistérios e acabam caindo em impetuosos lamaçais, recolhem-se como galinhas ao vivenciarem a solidão do céu escuro. Momentos reflexivos são bastante coerentes com sentimentos de acomodação. Será? Reflexão é submergir-se do real e natural, é alcançar o êxtase superior, o auge impetuoso do "eu" subjetivo, em contrapartida em vivenciar os momentos vividos sob uma atmosfera conservante e ao mesmo tempo desestruturante. A "DESESTRUTURA CONSERVADA" reproduz um eu em estágio de clímax existencial. Dentro do buraco negro é possível emergir-se de dentro para fora e analisar o quão interessante é assistir o espetáculo solitário de si mesmo dentro de si. Aceitar a idéia do eu dentro de um "eu" é o primeiro passo.

Rodrigo Vaz

Meu eu

Fecha-te em teus olhos profundos
Fita-me com um humor negro
Observa-me de fora do casulo
E véras a verdadeira face

E o circo já chegou...

Bolas, risos, guinchos
Piruetas, cambalhotas, aplausos
Palhaços, mágicos, platéia
"Sou palhaço de um circo sem futuro"

Equilibristas, ciganas, baralhos
Cornetas, cartolas, fitas
Coelhos, brancos!
"Sou palhaço de um circo sem futuro"

Máscaras, tintas
Equilíbrio, meu caro!
Na minha cara pintada: LÁGRIMAS
"Sou palhaço de um circo sem futuro"


Rodrigo Vaz

Poema sem nome

Em um ímpeto de loucura
Encerro minha paródia
E como em um cinema mudo
Fecho-me em meu interior

Quero que o destino não seja vão
Sonhar é bom
Mas sonhar é destino
O que há de vão no sonhar?

Prefiro conhecer as verdades das coisas
Por elas mesmas
Mas será que elas mesmas "se conhecem"?



Rodrigo Vaz