sábado, 25 de dezembro de 2010

Eles e eu no meio do mundo

Acuados pelo silêncio da coruja
Eles esperavam que a Lua fizesse sua prece
E que a estrela de Belém, naquela noite, fizesse sentido
Trazendo mirra e tudo mais que fosse bom

Acuados na esquina da madrugada
Eles juntavam os cacos de seus sonhos
E confessavam seus desejos mais íntimos
Para que a compreensão não fosse apenas a chave de tudo

E criticavam uns aos outros
Ao passo que dançavam ao som abafado do vento noturno
Tremiam e oravam em segredo
Para que nenhum outro corpo os roubasse de si mesmos

Naquele instante, eles eram a manjedoura um do outro

(rodrigo vaz)

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Não sacrificarei mais as renas


Papai Noel não entra mais na minha chaminé
Ela está interditada
Milhões de corações já entram em ebulição naquele lugar

É hora de liquefazer!

(rodrigo vaz)

sábado, 11 de dezembro de 2010

O batismo

Me amarraram no corredor
Ao pé da escada que leva ao sótão
A transfusão que fizeram me dopou
Recolheram todos os sonhos
Que nasceram no chão do meu jardim de acácias

Não pinto mais quadros
Colorir a vida já me é tão comum
Ser comum é carbonizar-se em floresta seca
Sem bicho, sem árvore, sem mim

Foi então que olhei para A Noite Estrelada
E neste instante, neste exato instante fugaz
Eu entendei que ser humano é fazer dos tropeços da vida vasos para colocar flores

Rompi as cordas
E mirei Os Dozes Girassóis numa Jarra
Quem é louco, eu ou o Van Gogh?

Silêncio...
Só o vento faz sua prece
Acompanho seu rosário
E oro por todos os malditos

(rodrigo vaz)

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Adoravéis mambembes

O seu sol nascia no mesmo lugar que o de uma
A sua lua enchia do mesmo modo que a da outra
Essas deduções astrais os confortavam
Diante da profusão de eventos demasiadamente humanos que os uniam

E assim não-saciados de sede e fome de desejo
Eles alucinavam na estação
Esperando um trem que sempre cruzasse com seus destinos

(rodrigo vaz)

sábado, 27 de novembro de 2010

Uma flor nasceu na rua!
Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço do tráfego.
Uma flor ainda desbotada
ilude a polícia, rompe o asfalto.
Façam completo silêncio, paralisem os negócios,
garanto que uma flor nasceu.

Sua cor não se percebe.
Suas pétalas não se abrem.
Seu nome não está nos livros.
É feia. Mas é realmente uma flor.

Sento-me no chão da capital do país às cinco horas da tarde
e lentamente passo a mão nessa forma insegura.
Do lado das montanhas, nuvens macias avolumam-se.
Pequenos pontos brancos movem-se no mar, galinhas em pânico.
É feia. Mas é uma flor. Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio.

Drummond

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Prometo nunca mais sofrer

A sombra fétida da noite no Centro me provoca vertigens
Mesmo assim eu danço no asfalto

O cheiro forte de perfume maltrapilho incendeia a atmosfera
Eu corro pelo bosque e abraço girassóis

A nuvem industrial coaduna com a gripe A dos motores automobilísticos
Eu prefiro outras fumaças

O sol amanhece me convidando para uma seita secreta
Eu tomo banho de mar

Hoje tudo convergia para um drama italiano
Eu transformei em tango argentino

(rodrigo vaz)

domingo, 14 de novembro de 2010

Paradoxo

As nuvens amanheceram pesadas, úmidas e prestes a explodir
Mesmo assim corro na rua e me banho no seu choro
Sou avatar de seu derrame lacrimal


O sol queima meus olhos
E esconde o desejo ardente que tenho de ser brilho
De ser Ele
Me contento com o conseqüente suor que escorre pelo meu corpo

Aproveito a noite pra me vingar
Me identifico com a Lua
Sou meio de Lua
E surjo no horizonte só pra incomodar os desamores do dia-a-dia
Só pra aumentar a fome dos dessabores de teu paladar
Só pra incomodar o desalento de teu sexo

Ao me encarar, você corre para o papel
A escrita é o teu consolo de menino vadio
Vagabundo das noites escuras e frias
Dançarino nos lixões desta velha senhora amarga

Escrever é um ato solitário
De produzir eco num Outro de mim mesmo

(rodrigo vaz)

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Dedicatória

Quem foi que disse que eu escrevo para as elites?
Quem foi que disse que eu escrevo para o bas-fond?
Eu escrevo para a Maria de Todo o Dia.
Eu escrevo para o João Cara de Pão.
Para você, que está com este jornal na mão...
E de súbito descobre que a única novidade é a poesia,
O resto não passa de crônica policial – social – política.
E os jornais sempre proclamam que “a situação é crítica”!
Mas eu escrevo é para o João e a Maria.
Que quase sempre estão em situação crítica!
E por isso as minhas palavras são quotidianas como o pão nosso de cada dia.
E a minha poesia é natural e simples como a água bebida na concha da mão.

Mario Quintana

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Ma petite

Folha pequena transeunte
Pela passarela crepuscular de uma tarde de outono

Seja em Nova York ou Paris
Seja do lado de fora da casa
Ou aqui bem dentro de mim
Eu a verei sempre sussurando ao pé do meu ouvido
Baixinho, quase sem voz, uma sonoridade frágil
Como boneca de louça partida
Como partida de futebol não transmitida
Em plenas quartas de finais

Ma belle amie
Eu te espero na varanda
Com aquele casaco que você esqueceu
Com aquele esquecimento digno de um homem frio
Com aquele frio na barriga característico de quem ama


Deitado na cama
Nem acendo o abajur
Você sabe, a elegância nunca foi meu forte
Sempre acreditei que o máximo de luz é também obscurecimento

Bonjour
Bonne nuit
Saudades pulsantes de espera
Ma petite!

(rodrigo vaz)

sábado, 25 de setembro de 2010

Isa Paula escreveu esse sussuro e me enviou, então resolvi compartilhar com vocês que me visitam...

"a nossa casa estaria cercada de música, poesia e de um querer que é real
já percebia, ela, a preciosidade precisa das pessoas
percebia um sorriso singelo, sem gelo, mas não decifrava o que acontecia
o que acontece, realmente, sem mentira, na realidade ou no planos das ideias

na realidade, realidade, temos uma ideia vaga
nos apropriamos do que os outros pensam de nós
pensamos o que pensam, pensou?
nos construímos através do que os outros pensam de nós
e o que pensam é expressado nesses sorrisos misteriosos e nos olhares confusos

vejo, agora, que a realidade não é tão real assim
é suposição, sem posição
hipótese, sem tese"

domingo, 19 de setembro de 2010

24 versos

Acorda e toma café
Abre a janela
Vento sopra
Bate a porta
Rua deserta
Sol na cara
Mochila nas costas
Pensamento na noite anterior
Aula chata
Flexões na praça
Verborragias nos corredores
Sua prece é dita em silêncio


Colheres de arroz e feijão
Rápidos passos ao estágio
Mais uma tarde de encontros
Merecidamente humanos
Tensões à flor da pele
O ônibus carrega o peso das mentes cansadas
Exaustas de ignorar tal peso
Mais-valia de mais-valia
Encaminhamentos dados
Pulo no corrimão da noite que balança
E sou embalado por ele a noite toda
Pareço tomar um suco de laranja bem docinho

(rodrigo vaz)

sábado, 18 de setembro de 2010

Aos que me visitam

Peço que sempre passem por aqui
Abram a janela
Lhes dou a permissão

Sentem sobre os acentos
Bebam dos sentimentos postos na mesa
Arrumem uma toalha, se quiserem
E se envolvam sobre ela

Depois disso
Tomem umas xícaras de café
Ou chá de cogumelos, se preferirem

(rodrigo vaz)

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Doce mente porno gráfico

Desejo uma contemplação púbica
E, claro, meter o dedo quando possível
E pôr todos os pingos nos "i"s

Sinto-me como Dom Quixote ao delirar pela sua Dulcinéia
Sigo a procissão que te acompanha
E ensaio gramaticalmente o encontro com teu busto

Durmo sonhando com a dança dos corpos que um dia poderíamos ter
E as formas geométricas fazem parte dessa elaboração onírica
Mas não busco resolver equação matemática alguma
Pois, neste momento quase nirvânico, o somatório dois mais dois é impossível

Na frente do espelho, de chapéu côco, eu fumo meu cigarrinho
Enquanto te observo retirar o sutiã
Como num quadro de Vettriano

(rodrigo vaz)

sábado, 11 de setembro de 2010

Bons Meninos


Sentiam o mundo de um jeito diferente
Saudavam as rosas, os poetas e as moças que passavam
Enquanto bebiam vinho

Degustavam corações
Atiravam flechas musicais pelo caminho
Não seguiam cartilha alguma
Eram únicos

Deliciosamente bons meninos!

Na virada da torre

Chegou feito menina querendo doce
Estendeu a mão
E me lançou naquela dança

Diante daquela fumaça
A noite demonstrou que estava ainda mais faminta
Que além de doces, ela queria travessuras

Persistiu a madrugada
Que cortejada por muitos
Preferiu a mim como súdito real

Em poucos instantes a manhã será anunciada
Um longo tapete de raios solares invadem meu mundo Real
É 11 de setembro de 2010... Aplaudam!

Hoje é aniversário das torres gêmeas...

(rodrigo vaz)

domingo, 5 de setembro de 2010

DMT


Os circuitos entram em erupção
Vulcanicamente
As lavas ferventes sucumbem a experiência de viver
Outra intensidade

Pareço não sentir meus pés
As mãos tocam nas paredes do túnel pelo qual entrei
São vários os afluentes
Inúmeras cores me dizem onde não estou
Onde não sou

Ao dobrar a esquina
Percebo que já estive lá
Ou apenas foi um sonho

A viagem continua
O verbo insiste em me avisar

Parado no meio-fio desta passarela
Uma luz incide sob meu rosto
Penso que sou um segundo sol
Demasiadamente Munido de Transversais

(rodrigo vaz)

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Lampejo de brisa

Acordou que nem flor de laranjeira
Exalava o perfume mais cálido e calmante
Meu bem, de você eu fazia um chá!

Acordou como Sol
Rainha-mãe me esclarecendo o horizonte
Por você eu virava mar

Acordou ainda maiS Ativa
Cheirava a erva proibida
Na cantina pediu: caldo de cana e um bis

(rodrigo vaz)

sábado, 21 de agosto de 2010

Olha como ela samba!

Envolve teu corpo no meu
Cola teu rosto e escorrega teus pés no salão
Segura minha mão e me leva pra ciranda
De maluco...

Controla os rituais
Acalma os espíritos inquietos
E nas rodas acompanha nossas falas, translúcida
De boa...


Sente o vapor da madrugada
E o anúncio de que o Sol já vai surgir
O dia sempre acorda com uma noite na cabeça
Com certeza...


(rodrigo vaz)

terça-feira, 27 de julho de 2010

Receita diária

A rua parece deserta
Mesmo assim caminho pelos trilhos
Arracando as flores dos cactos

O ar é árido
E quando o relógio anuncia que a tarde chegou
Eu ouço um passarinho cantar
Ele voa
Quem dera poder voar
Mas como dizem:
Deus não dá asas a cobra!

Quando a noite roça em meu rosto
Eu sinto calafrios
Tento pegar carona nas estrelas
E quando é meia-noite eu saio
Procurando os cacos do que restou de mim

(rodrigo vaz)

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Intensivo

O que eu escrevo não cabe em mim
Por isso escrevo
Para que as palavras voem
Se encaminhem para o Sul
E encontrem terra firme

Boas colheitas hão de vir
Mas eu tenho pressa
A espera me incomoda por inteiro
Por isso antes do sol raiar
Eu quebro os ponteiros

A chuva banha meu corpo
Mas o que desagua aqui dentro é bem mais forte
Inunda as vísceras e o coração
Tenho fome e sede
Bombardeio fluxos por todos os lados

A vida parece não dá conta de tudo isso
Falta muito em mim
Porque eu existo demais

(rodrigo vaz)

domingo, 18 de julho de 2010

Noite colonial


Os movéis estão postos no palco
Cadeiras, poltronas ou sofás para sentar não precisam
O negócio é se jogar entre os sapatos
E se organizar em rodas
Mas não precisam ser rodas fixas

Conversaremos sobre a Perestroika
Sentiremos "o tempo engatinhar do jeito que eu sempre quis"
Falaremos em códigos, através de verbetes e lembretes
E seremos o cão-guia um do outro nesta noite colonial

(rodrigo vaz)

domingo, 11 de julho de 2010

Menina na janela

Todo dia eu passava em frente aquela janela
Só pra vê-la

Timidamente eu erguia meu chapéu
E a cumprimentava
Ela respondia com um sorriso, não menos tímido

Era contida
Devia ser filha única
Ou então teria sido criada pelos avós

Contemplava as paisagens que adentravam a janela da sua casa
Deveria ter o sonho de ser arquiteta
Que nem Deus
Ou então ter asas
Grandes asas
Que permitissem vê o que haveria por trás daquelas montanhas

Certo dia, não encontrei mais aquela menina
Voltei no outro dia
E no outro, e no outro...
Mas nenhum sinal daquele frágil corpo esgueirado sob a janela

Fiquei pensando:
Será que ela se perdeu na floresta?

Foi então que o sol escureceu a minha visão
Caminhei ao horizonte

(rodrigo vaz)

Sala de espera


Durmo como quem cochila na areia da praia
Bêbado

Choro igual aos filhotes de Pitch que passeiam pela orla
Como crias desamparadas

Sinto o cheiro do mar
E a brisa leve que ressoa
São sinos
Tocam
E tocam tão profundamente
Que chega a doer
Mas é dor boa
Dor de viver
Dor de amor
Dor de espera

As ondas batem na areia
Com força
Pera, deixa eu bater junto!
Deixa eu tocar a campainha
E ver você sorrindo abrir a porta

No fim, é a espuma que dói em mim
Que tranca

Eu já sei!
Eu já aprendi!
Existe o momento certo de doar
O ritmo certo do ar

Mas é tarde e já é noite
A conexão está falha
Faz o back-up
E reconecta de novo
Porém, eu já perdi o último download
Espera instalar o antivírus
Detectada a ameaça, eu entro

Página não encontrada

(rodrigo vaz)

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Mapa Lunar

A Lua chegou como ventania
Abriu a porta
E espalhou suas malas pelos cantos
Tinham alças e cheiravam a morangos silvestres

A Lua deitou na Relva e cochilou comigo
Depois riu e voltou a dormir
Acordou e já era tarde
A chuva se esgueirava tentando encobri-la

Eu, como se fosse o Sol, buscava sempre ajudá-la
De dia, conduzia-a ao seu destino
À noite, me retirava para que ela toma-se de conta do meu

E depois de uma semana
A Lua abre a porta
E como estrela cadente parte
Eu volto a qualquer telhado

(rodrigo vaz)

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Podemos ser


Farelo de pão
As raspas de queijo quente na panela
A última colherada da calda da compota de goiaba

Podemos ser

O primeiro beijo do dia
A última transa da noite
O primeiro sopro de vida que alguém possa sentir

Podemos ser

As pontas de lápis que saem das lapiseiras
O giz de cera melado no papel
A tinta guache sujando nossa cara

Podemos ser

A tristeza do poeta
O sorriso de Monalisa
A alegria Sativa

Podemos ser

terça-feira, 22 de junho de 2010

Ante-olhos

na janela de vidro transparente de uma caixa retangular que se chamava ônibus, a menina, com olhos admirados e verdes

o verde demonstrava a sua imaturidade, como fruto que ainda não caiu e que continua preso à mãe árvore

o menino caminhava com olhos comovidos sobre o asfalto encardido, com os óculos: outra janela de vidro transparente

eram humanos, pois nunca revelavam nada por completo, sempre ficavam cifras nas entrelinhas. E faziam questão que elas permanecessem

dormiam e sonhavam com os restos de seus dias que não foram realizados. Nos sonhos, as janelas de vidro se tornavam películas finas

se vestiam como fazem os chamados civilizados, mas a casca não importava muito para eles: a gema é que dava o sabor sempre com alguma pitada de sal

e hoje, ela vê ele. Ele de calça azul confunde-se com a clássica cor do céu, ela ao vê-lo desvia o olhar um instante para as nuvens: estão cinzas

agora começa a chuva, e eles se perdem no infinito como gente só(zinha) reunida

(rodrigo vaz & isa paula)

Quando vi o mundo

Belos olhos
E a vida passando
E os sinos tocando
E o mar revoltado

Belos olhos
E o trem saindo
E as irmãs orando
E a música no ar

Belos olhos
E a noite rolando
E o riso rasgando
E nada mais no lugar

(Rodrigo Vaz)

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Compasso


O compasso gira lentamente
E produz um risco
O risco demarca seu lugar no papel
Se torna escritura
Marca

A passos largos ou mais curtos
Vou delineando meu traço nessa rota
E com um, dois, três traços
Mudo completamente o percurso num ângulo de 180°graus
A vida sob esse traçado
Compasso
Com passos

(rodrigo vaz)

sábado, 5 de junho de 2010

Vira


Vira trigo
Vira pão

Vira fruta
Vira suco

Vira noite
Vira dia

Vira lua
Vira sol

Vira céu
Vira infinito

Vira música
Vira festa

Vira vinho
Vira lombra

E deixem que eles virem a casaca
Porque a gente...

A gente Viramundo

(rodrigo vaz)

domingo, 16 de maio de 2010

Preciosos prazeres carnais

Sustentam-se de pequenas manias
Roer as unhas
Coçar a barba
Cheirar o "suvaco" do bebê da vizinha

Se entregam a determinados prazeres
Chegar primeiro para não ser o "filho do padre"
Sonhar pulando de pará-quedas
Dormir nu depois de um dia de cansaço

Vivem de deliciosos vícios
Furtar amoras
Fazer escambo com girassóis
E esconder debaixo da "manga" alguns corações

(Rodrigo Vaz)

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Sexo dos anjos

Eu quero que você morra....

Morra de beijos...
De abraços....
De desejo...
De sexo...

Não corra!
Pois eu quero que você pule no momento certo...

Me beije...
Me abrace...
Me mate de sorrisos
Me arranhe, mas de leve
Como um beija-flor

Gargalhe!
Grite!

Deixe que eu te ergo pelos ares
e faço você respirar as nuvens
Depois eu solto...
Você perceberá que não terá asas
Mesmo assim te chamarei de anjo...

Anjos não morrem...
Mas eu quero que você morra...
Morra no rock, morra comigo...
Tenha medo de ser feliz
E assim te verei humana

(Rodrigo Vaz)

terça-feira, 4 de maio de 2010

Isto não é uma poesia de amor

Parecia trazer consigo toda a colheita de girassóis
Do último verão
Entregava para cada amante uma pétala
Para mim só sobravam as sementes
Sementes de girassóis!

Causava frisson por onde passava
Todos caiam aos seus pés
Pedidos de clemência era suplicados
Por que não olhas para estes mortais?
Só versos de Florbela Espanca a entretiam

No inverno, quando a neve cai
E a ampulheta do tempo traz o traço efêmero da vida
Ela incorpora Cleópatra
Convoca seus súditos
E os amarra aos seus pés

(Rodrigo Vaz)

domingo, 2 de maio de 2010

Dia em dó menor


Caminhava lânguido pela rua
Não havia nenhum barulho
Nem cotovias a cantar
Nenhum tormento dava sabor ao espírito

Até que começo a ouvir uma melodia
Era simples não havia notas complexas
Qualquer violão iniciante saberia improvisar esse som
Mas nenhuma garganta até o momento se atreveu a copiá-lo

Sutil, foi ganhando corpo
Aos poucos os graves e as afinações estavam num mesmo plano de consistência
As folhas já dançavam ao som daquela brisa
Era a melodia do vento

Num instante, tudo mudou
A melodia entrou num clima de rock’n roll
As nuvens pareciam se conectar em uma Woodstock
As gotas da chuva caiam em meu rosto

No fim do dia, ao fundo
Como se me chamasse em segredo
O anúncio do outono
Trazia uma canção de jazz

(Rodrigo Vaz)

sábado, 24 de abril de 2010

Xuxu é uma libélula alegre

A maioria incrementa a salada, mas sempre sem graça
Esse é diferente!
Quase todos relaxam a pressão arterial
Esse acelera meu coração sempre que passa

Muitos são sem sal
Esse sempre se torna um tempero especial
Em qualquer lugar

Esteticamente agradável
Não exagera nos contornos
Talvez nos modos?
Mas isso é bobagem!
Quem nunca trocou o açúcar pelo sal ou vice-versa?

Na medida
Ferve os olhos dos requintados observadores
Uns são chefes de cozinhas
Mas outros são esquizobiólogos a definir:

- Xuxu é uma libélula alegre!

(rodrigo vaz)

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Ensaio sobre a (in) consciência

Saiu pela porta da frente
Diziam que não tinha pernas suficientes
Duas já não estavam de bom tamanho?

Correu para o jardim
E cercado pelas violetas, colheu uma
Deitou na grama e fechou os olhos

Eram 5 horas da manhã
Nunca havia acordado tão cedo
Mas gostou, batia uma "brisa legal"

Na noite anterior havia tido vários sonhos
Como de costume não lembrava de quase nada
Apenas sentia que, quando sonhava, algo lhe queimava

Abriu os olhos
As nuvens acompanharam o mesmo ritmo e se afastaram
O sol então surgiu: estava forte

Sua visão ficou encandeada
Então um impulso proporcionou que levantasse
Entendeu que agora era o momento

(rodrigo vaz)

domingo, 11 de abril de 2010

Foto-síntese

Com o olho vibrátil
Registro os pormenores
Produzindo as marcas que atravessaram esse território

A seiva vai passar
Nutrindo, multiplicando-se
Espalhando-se por todo esse rizoma

Com o olho vibrátil
Fotografo os acontecimentos
Cartografando um mapa por cima do decalque da vida

Depois me desterritorializo
E traço outro plano de consistência
É a hora da metamorfose

Este é o momento da seiva me tranversalizar
Respiro fundo
E me entrego de corpo e língua

(rodrigo vaz)

sábado, 20 de março de 2010

Momento sensível

Um sopro de vento
A água da praia na beira-mar
A chuva que cai na varanda
Tudo parece soluçar

Um passarinho diz: "Bom dia!"
E já não basta...
Hoje é mais um ano
E já não basta...

Bem me quer, mal me quer
Que brincadeira inútil!
O melhor a fazer é...
Esfregar essa flor na minha pele

(rodrigo vaz)

terça-feira, 2 de março de 2010

Pão, pão, beijo, beijo

Saíste sem sequer dizer: Um dia eu volto!
Bateu a porta e deixou uma carta na frente do pc
Haviam marcas de batom

Fechei os olhos: Só podia ser um pesadelo!
Nem o café estava na mesa
Fui à cozinha, imaginei-a como no dia anterior
Estava com a faca e o queijo na mão

(rodrigo vaz)

Crônica da amizade

Um amigo mistura a irreverência da descoberta
Com a timidez do já conhecido
Apóia a mão no ombro
E a retira quando o umbral já não suporta o peso da vida
É ai que rola o abraço


(rodrigo vaz)

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Prato Feito

Arruma toda a mesa
Põe toalhas, xícaras e pratos
Traz a chaleira e o café
Mas falta umas colheres de açúcar

Retira tudo do lugar
Rearranja a mesa
Parte o pão
Agora tudo já está feito

(Rodrigo Vaz)

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Carne Viva

Quatro dias de muita gozação
Pêlos, lábios sejam grandes ou pequenos
Mas de preferência carnudos, salientes
Hum... suculentos...

Quatro dias de variados perfumes
Das cores e cheiros mas vivos e cintilantes
Energéticos, inebriantes
Ahh... me segura se não eu caio

Quatro dias inesquecíveis
De festa, de sucesso, de flores
Mas de preferência de violetas verdes
Encontradas nas ladeiras do carnaval

Quinto dia: parece que tudo acabou
Dizem que o que sobra são as cinzas: a queimação!

(Rodrigo Vaz)

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

O inesperado encontro de Amélie Poulain com o Pequeno Príncipe

Parecia mais um dia comum
O céu azul com nuvens de várias caretas
E árvores transpirando orvalho


Jogamos pedras no rio San Martin como de costume
Amélie parecia mais calma
E me falou da Sra. Poulain e de suas aventuras com ovnis coloridos

Lembramos da raposa quando andamos pelo trilho
Ela preferia esquecê-la
E resolveu pontuar questões mais pragmáticas

Sentamos na areia, sentimos o vento
Era o cheiro da liberdade
Um beijo

(Rodrigo Vaz)

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Quanto vale minha poesia?

Escreve para fazer rir
Retira da realidade a desgraça
E a serve de bandeja para os membos da Corte

Quando toda a festa acaba
E até os ossos foram chupados
Ele pega uma gorda fatia na cozinha
E come-a na frente dos presentes e ausentes

No calabouço ao lado
O verdadeiro poeta vegeta
Será fome o que ele sente?

(Rodrigo Vaz)

domingo, 31 de janeiro de 2010

Inocência

Não sabia o que sentia
Apenas sentia

Não sabia o que via
Apenas via

Não sabia quem amava
Apenas amava

O problema é que depois...
Eu não sabia o que comia...

(Rodrigo Vaz)

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Mamão (com) açúcar

Delicada...
Com a xícara na mão
Ela despeja todo o café na lavanderia

Suave...
Come todas as amoras
Passa mal, mas antes me dá um beijo


Simplória...
Chuta todas as barracas
E com o pau rasga o seu mundo

Coesa...
Suja a mão de areia
Quando se balança no parquinho

(Rodrigo Vaz)

sábado, 16 de janeiro de 2010

Passado a limpo

Lave sua boca
Antes de chupar qualquer coisa

Limpe sua latrina
Antes de apontar o dedo para alguém

Ponha colírio nos olhos
Antes que o vejam

E lembre de por tudo
Pra debaixo do tapete

(Rodrigo Vaz)

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Ouça o que digo


Seja uma menina
brinque de peão e corra na rua
Seja uma mulher
corra quando a chuva vier e aguarde a Lua

Seja uma menina
chupe picolé quando estiver gripada
Seja uma mulher
quando gripada não esqueça o remédio

Seja uma menina
estude matemática e leia Veríssimo
Seja uma mulher
Pinte Kahlo e veja Almódovar

Seja uma menina
coma chocolate e suje a caixa de maquiagem de sua mãe
Seja uma mulher
solte a pipa e não espere ela voltar

(Rodrigo Vaz)