terça-feira, 27 de julho de 2010

Receita diária

A rua parece deserta
Mesmo assim caminho pelos trilhos
Arracando as flores dos cactos

O ar é árido
E quando o relógio anuncia que a tarde chegou
Eu ouço um passarinho cantar
Ele voa
Quem dera poder voar
Mas como dizem:
Deus não dá asas a cobra!

Quando a noite roça em meu rosto
Eu sinto calafrios
Tento pegar carona nas estrelas
E quando é meia-noite eu saio
Procurando os cacos do que restou de mim

(rodrigo vaz)

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Intensivo

O que eu escrevo não cabe em mim
Por isso escrevo
Para que as palavras voem
Se encaminhem para o Sul
E encontrem terra firme

Boas colheitas hão de vir
Mas eu tenho pressa
A espera me incomoda por inteiro
Por isso antes do sol raiar
Eu quebro os ponteiros

A chuva banha meu corpo
Mas o que desagua aqui dentro é bem mais forte
Inunda as vísceras e o coração
Tenho fome e sede
Bombardeio fluxos por todos os lados

A vida parece não dá conta de tudo isso
Falta muito em mim
Porque eu existo demais

(rodrigo vaz)

domingo, 18 de julho de 2010

Noite colonial


Os movéis estão postos no palco
Cadeiras, poltronas ou sofás para sentar não precisam
O negócio é se jogar entre os sapatos
E se organizar em rodas
Mas não precisam ser rodas fixas

Conversaremos sobre a Perestroika
Sentiremos "o tempo engatinhar do jeito que eu sempre quis"
Falaremos em códigos, através de verbetes e lembretes
E seremos o cão-guia um do outro nesta noite colonial

(rodrigo vaz)

domingo, 11 de julho de 2010

Menina na janela

Todo dia eu passava em frente aquela janela
Só pra vê-la

Timidamente eu erguia meu chapéu
E a cumprimentava
Ela respondia com um sorriso, não menos tímido

Era contida
Devia ser filha única
Ou então teria sido criada pelos avós

Contemplava as paisagens que adentravam a janela da sua casa
Deveria ter o sonho de ser arquiteta
Que nem Deus
Ou então ter asas
Grandes asas
Que permitissem vê o que haveria por trás daquelas montanhas

Certo dia, não encontrei mais aquela menina
Voltei no outro dia
E no outro, e no outro...
Mas nenhum sinal daquele frágil corpo esgueirado sob a janela

Fiquei pensando:
Será que ela se perdeu na floresta?

Foi então que o sol escureceu a minha visão
Caminhei ao horizonte

(rodrigo vaz)

Sala de espera


Durmo como quem cochila na areia da praia
Bêbado

Choro igual aos filhotes de Pitch que passeiam pela orla
Como crias desamparadas

Sinto o cheiro do mar
E a brisa leve que ressoa
São sinos
Tocam
E tocam tão profundamente
Que chega a doer
Mas é dor boa
Dor de viver
Dor de amor
Dor de espera

As ondas batem na areia
Com força
Pera, deixa eu bater junto!
Deixa eu tocar a campainha
E ver você sorrindo abrir a porta

No fim, é a espuma que dói em mim
Que tranca

Eu já sei!
Eu já aprendi!
Existe o momento certo de doar
O ritmo certo do ar

Mas é tarde e já é noite
A conexão está falha
Faz o back-up
E reconecta de novo
Porém, eu já perdi o último download
Espera instalar o antivírus
Detectada a ameaça, eu entro

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