quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

E se desse tempo da roupa secar...


No meu varal estão postos gravetos
São finos e dotados de um solipsismo triunfal

Em noites de inverno
Quando a Lua me devora o Édipo
A chuva molha as gotas de silêncio
Produzindo estalos na bigorna dos transeuntes
Quando é primavera, acompanho o desabrochar das sibipirunas
Amarelas como os reflexos de Sol que entram sem permissão

Recebo visitas
Duendes e violetas cortejam o meu jardim
Comem do meu suor e bebem do meu silêncio
Partem alguns instantes antes da carruagem chegar
Por vezes, esquecem alguns sapatinhos
Noutras, me deixam com a cara da abóbora

Há coisas e pessoas que nos rasgam, sem piedade

(rodrigo vaz)

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Elementar, meu caro Sancho

Queria ter asas para farejar as nuvens e sentir o peso de uma águia ao posar no chão. Enquanto isso eu sonho. E no sonho eu sou um cão vira-lata que farejo as latas de lixo e os meio-fios em noites de azul-pavio. Pego carona nas estrelas, o cata-vento é minha maria-fumaça. Quando acordo: sou um dom-quixote urbano.

(rodrigo vaz)

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Re-cortes ou O que creio de mim

Gosto de ser outros. Seja quando espirro ao dizer meu nome a um estranho, no instante em que lavo a louça e tremo ao sentir seu beijo em minha nuca, ou no momento em que tomo banho sendo contaminado pelo meu cd predileto do Chico (Buarque). Sou como um mágico. Tiro coelhos da cartola e eles saem para plantar cenouras por aí, falando sobre o tempo e outras questões que interessam aos humanos. Às vezes, eu próprio ponho minha cartola na cabeça e saio a saudar madressilvas e botões, pintando-os de Guernica e Clarice. Em outros momentos, sou palhaço. Mas meu nariz vermelho, às vezes, não me cabe. Tem dias que estou tão sem tamanho, que não entro em nenhuma forma. Noutros, estou tão pequenino que qualquer transeunte pode me carregar em seu bolso. Mas quando meu nariz me cabe, eu faço caretas, me ponho a dançar no saloon, bebo vinho e me visto da minha melhor solidão. Sempre acreditei que magia e fazer caretas tinham algo de análogo com algum conceito de vida.

(rodrigo vaz)