quarta-feira, 4 de maio de 2011

Só pode ser louco!


É que ando tão lúcido de mim que chego a tropeçar pelos cantos. Dias desses, caio estatelado no chão. Assim, poderei perder a consciência e começar tudo outra vez.

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sexta-feira, 22 de abril de 2011

Um louco no divã num horário que não existe


Escreve tua loucura. Traz as tintas e papel maché. Desenha com lápis de cera. Faz de cada rabisco um fluxo a-significante. Limpa tua cara, e faz careta.

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segunda-feira, 18 de abril de 2011

Abre-te Sésamo!


"Tenho medo do escuro!" repetia incesantemente. Nunca havia se dado conta que poderia abrir os olhos. Deu-se então um jogo tátil. E nesse dia, descobriu que tinha pálpebras. Moral da história: não precisa ser cego para não ver nem insensato para não sentir. Eis a faceta humana!

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sábado, 16 de abril de 2011

Tchibuum


É que tenho umas esquisitices que me fazem humano. E não é aquela coisa de "matar a cobra e mostrar o pau". Mas de insistir que Bola Sete e Super-Homem podem ter algo semelhante. Se apegar a alguns heróis nos livra da loucura, dando mais força à ela. Tenho pensamentos sãos, mas são raros. Minha loucura os convence rapidinho. Aí quando eles ficam distorcidos, eu pulo em cima e brinco de escorrego.

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quarta-feira, 13 de abril de 2011

Coisas de cachorro doido

Cuidado! Dizem que sou perigoso. Tenho facas afiadas e outros objetos cortantes. Rompo suas artérias e bebo teu sangue, se deixar colo nos teus ossos e não largo mais. É que tenho um pouco de cachorro abandonado. Porto aquelas velhas manias de quem vira-lata procurando filé de atum em meio as quinquilharias. E não perco tempo. Nenhum pastor alemão, nem mesmo aqueles bem opulentos de retórica, conseguem me fazer desistir. E se desisto, é fato raro e logo passa. É só ir ao bar e pedir: Me dá uma dose de conhaque que é pra alimentar minha loucura.

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quarta-feira, 6 de abril de 2011

Tranquilamente perturbados

Pedro se virou para o médico e perguntou: "Doutor, quanto tempo ele ainda tem?" E o médico, sobressaltado lhe respondeu: "O mesmo que nós!" O estagiário, que mesmo jovem já havia se embalsamado no estudo de barbitúricos,lítios e outras verdades totais, entendeu que o pobre sujeito de estrutura psíquica incômoda precisava era de morfina. No dia seguinte, este nada sentia. Vendo a imprudência cometida, o médico decidiu que os três precisavam era de uma boa corrida. Deram-se as mãos e pularam os muros do sanatório.

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sexta-feira, 1 de abril de 2011

Báscula


Tenho que me virar com esses pedaços mal resolvidos de mim. Quando criança, tinha medo da fada-dos-dentes, diziam que ela capturava crianças que andassem no escuro. Isso me fez recuar sempre que encontrava uma sombra. Até que um dia resolvi tentar um acordo que encerrasse esse embate que mais parecia a Guerra das Duas Rosas. Luz e sombra até então não haviam cessado de disputar o trono. Pus um espelho sob a face e olhei pelos olhos da imagem. Fechei meus olhos. Abri-os. Instantes depois, mergulhei na piscina. Perdi a hidrofobia.

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quinta-feira, 24 de março de 2011

Pensando na chuva ou Do outro lado da janela da sala


Será que quando chove é porque as nuvens choram ou será que estão fazendo pipi na gente? Ou melhor, será que chuva é suor de nuvem?

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segunda-feira, 14 de março de 2011

Depois que a panela ferve


Levantei-me imponente e falei pra mim mesmo: "Serei um novo homem!" Por instantes, pensei em como realizaria tal mudança. Seria preciso um cerimonial? Ou, quem sabe, um funeral? Não, não! Ia haver muito chororô, disse-me-disse, e pessoas interessantes apenas nos comes e bebes. Decidi que deveria ser de modo simples e natural como uma nuvem cinza após um dia de calor. Fui ao asfalto e evaporei. Dias depois, voltei em gota.

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domingo, 13 de março de 2011

Ele&Ela


Ele

coração imprevisto
caído no chão
aos pedaços

Ela

o cão faminto
cercando
os estilhaços
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quinta-feira, 3 de março de 2011

Pontos nevrálgicos


Sou aquela tua contusão no pé esquerdo. Aquela dor de cabeça após inúmeras taças de vinho. Aquele peso nas costas implorando um pouco de atenção. Sou aquelas mãos tremendo de medo. Aquela boca roçando saliva. Sou o tímido beijo no rosto à espera de um quero mais. Sou o milagre de tua chegada. E o coração batendo em silêncio. Sou as cinzas da "bituca" esquecida no chão.

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terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Curriculum Vitae


Poeta é menino travesso, esperando o vizinho sair para roubar manga no quintal. Poeta espera o Sol se despedir para roubar das estrelas um verso para a noite. Os poetas esqueceram de crescer. Na verdade, eles cresceram, mas de trás para frente, de cima para baixo, da cozinha para a sala, tudo pelo avesso. Os poetas andam na contramão do destino. Quem buscar sentido no que eles fazem, não vai encontrar. Poetas gostam de se perderem, e quanto mais corda lhes derem, mas eles vão exercitar seus malabarismos. Poetas adoram uma corda bamba, uma cadeira quebrada, um pôr-do-Sol na estrada. Enfim, essas coisas em desuso.

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quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Je ne comprends pas

Sou um paradoxo. Habitam em mim todas as contradições do humano. Sensível, frio e calculista. Poeta e psicólogo. Estou condenado a exercer escolhas influenciadas por meus desejos. Não tive escolha. Me sinto intenso quando me aproximo do gozo da minha mais tola fantasia, mas basta o mínimo impasse para que o meu complexo de "meleca universal" tome as rédeas das minhas tentativas de encontrar um caminho. Dogmatizo a enigmática idéia de descobrir a mim mesmo. Rogo que uma cigana jogue cartas para mim e me diga um destino bom, pois fujo dos problemas. Me tranco no banheiro e choro escondido. Sozinho. Estar sozinho é quando o universo se cala para nos escutar. Quando é manhã, ponho uma fantasia e saio as ruas. Risco o chão com as gotas do choro anterior. São o meu orvalho. Flor taciturna numa tarde enevoada. Cacto desejando alimentar algum animal. Por fim, penso estar numa MATRIX. Minto. Acordei cedo hoje.

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quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

E se desse tempo da roupa secar...


No meu varal estão postos gravetos
São finos e dotados de um solipsismo triunfal

Em noites de inverno
Quando a Lua me devora o Édipo
A chuva molha as gotas de silêncio
Produzindo estalos na bigorna dos transeuntes
Quando é primavera, acompanho o desabrochar das sibipirunas
Amarelas como os reflexos de Sol que entram sem permissão

Recebo visitas
Duendes e violetas cortejam o meu jardim
Comem do meu suor e bebem do meu silêncio
Partem alguns instantes antes da carruagem chegar
Por vezes, esquecem alguns sapatinhos
Noutras, me deixam com a cara da abóbora

Há coisas e pessoas que nos rasgam, sem piedade

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segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Elementar, meu caro Sancho

Queria ter asas para farejar as nuvens e sentir o peso de uma águia ao posar no chão. Enquanto isso eu sonho. E no sonho eu sou um cão vira-lata que farejo as latas de lixo e os meio-fios em noites de azul-pavio. Pego carona nas estrelas, o cata-vento é minha maria-fumaça. Quando acordo: sou um dom-quixote urbano.

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terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Re-cortes ou O que creio de mim

Gosto de ser outros. Seja quando espirro ao dizer meu nome a um estranho, no instante em que lavo a louça e tremo ao sentir seu beijo em minha nuca, ou no momento em que tomo banho sendo contaminado pelo meu cd predileto do Chico (Buarque). Sou como um mágico. Tiro coelhos da cartola e eles saem para plantar cenouras por aí, falando sobre o tempo e outras questões que interessam aos humanos. Às vezes, eu próprio ponho minha cartola na cabeça e saio a saudar madressilvas e botões, pintando-os de Guernica e Clarice. Em outros momentos, sou palhaço. Mas meu nariz vermelho, às vezes, não me cabe. Tem dias que estou tão sem tamanho, que não entro em nenhuma forma. Noutros, estou tão pequenino que qualquer transeunte pode me carregar em seu bolso. Mas quando meu nariz me cabe, eu faço caretas, me ponho a dançar no saloon, bebo vinho e me visto da minha melhor solidão. Sempre acreditei que magia e fazer caretas tinham algo de análogo com algum conceito de vida.

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